segunda-feira, 23 de maio de 2011

Crônica

COTIDIANO


          Desenfreada confusão! mal o despertador se manisfesta, 06:30 da manhã, a mãe já inicia a correria. Cutuca o marido que já está na hora de levantar. Corre para o quarto dos meninos, que precisam se ajeitar para ir à escola.
          Prepara a mesa para o café: pão dormido com margarina. É tudo que ainda tem. José, o filho mais velhos, reclama do café. Diz que nem vai comer. Pega a mochila e vai para a escola. Na chegada, depara-se com a merendeira e logo pergunta: "Que tem de merenda hoje?". "Sopa!"- responde ela.
          Depois de algumas trocas de palavras com os colegas, dá o sinal. Ainda que sem muita disposição, José entra, encara a primeira aula como se não estivesse ali. Sentado, com as costas voltadas para a parede, escuta a professora falando sobre artigos: definidos e indefinidos. isso pouco lhe interessa. Seu pensamento está lá na opção de café da manhã que teve. Fica pensando na miséria que circunda o seu lar. O pai trabalha, mas ganha pouco. A mãe precisa cuidar da casa e dos irmãos menores.
           Passa a primeira, a segunda e chega a terceira aula. Nesse interstício de tempo alguém bate a porta: "Merenda". É a merendeira. Ah, lembrou da sopa prometida ainda no primeiro horário da manhã, logo quando chegou. Vão em fila para o refeitório. Enquanto engole colherada após colherada, fica imaginando como seria se tivesse nascido em outra família. Se tivesse um pai que ganhasse bastante dinheiro.... Ah, certamente tudo seria muito diferente!
          Finalizado o tempo da merenda, volta à sala de aula. A troca de professores faz com que José se ocupe também em avaliar cada um deles. Seu jeito, sua aula, seu modo de se expressar. O menino também imagina que cada ser tem os seus problemas, mas que ao menos, seus professores devem ter uma comida saborosa em suas mesas. E assim, a manhã vai se esvaindo entre as aulas, os colegas de classe, suas inquietações e o desejo de ter uma vida mais digna.
           11:45 é dado o último sinal. Hora de guardar o material e ir para casa. José já pensa no almoço. "O que será que vai ter?". Mesas para um lado, cadeiras para o outro, todos saem ligeiramente a caminho de casa.
           Ao chegar, sua mãe já grita: "Vá ver o que seu irmão está fazendo". Sentam à mesa. É osso de porco frito com mandioca. José reclama: "É sempre a mesma coisa"! Sua mãe manda calar a boca e comer. E ainda acrescenta: "Como bem quieto, porque muitos nem tem o que comer". José senta, serve-se e já fica a imaginar: "O que será que vai ter de merenda amanhã?"

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